Quando o senso comum pensa em moda, a primeira coisa que vem a cabeça é: “assunto fútil para mulheres que não tem o que fazer”. A maioria não entende que moda é muito mais do que isso. Moda é a expressão de um povo, é uma forma de comunicação, é a economia do país/mundo sendo movimentada, e é uma forma de estudar a história.
Como já diz Anatole France em sua sábia frase: “se me fosse dado escolher no amontoado dos livros que serão publicados cem anos após a minha morte, sabe o que eu escolheria? [...] Eu escolheria tranquilamente, meu amigo, uma revista de moda para ver como as mulheres estarão vestidas um século após meu falecimento. E estes pedacinhos de tecido me diriam mais sobre a humanidade futura do que todos os filósofos, romancistas, pregadores e sábios”.
Além de a indumentária ajudar a contar a história de um povo, a roupa ajuda a dizer muito sobre uma pessoa. Através da moda você consegue enxergar o humor, a classe social, a profissão e quem sabe, até o contexto que determinada pessoa está inserida.
Não são apenas acontecimentos que marcam uma época, a roupa também. Quantas vezes não paramos para assistir uma novela e enxergamos o “perfeito guarda roupa da vovó” fazendo sucesso numa jovem digna de século XXI?
O clássico All Star, de Chuck Taylor, já possui quase 100 anos de história. Lançado em 1917, o tradicional tênis já percorreu quase um século inserido em vários contextos. Primeiro, como um calçado esportivo para o basquete, passando por ícones do cinema e do rock, até chegar aos dias de hoje como um calçado do jovem, do adulto, do emocore, do hardcore, de todas as tribos.
E os famosos óculos da RayBan? Aviator e Wayfarer. Quem nunca usou ou teve pelo menos um primo distante que já foi fissurado nestes modelos? O Wayfarer é fabricado desde 1952, marcando a personalidade de pessoas, como o ator Johnny Depp.
Um RayBan Aviator que é, até hoje, moderno e elegante, foi inventado na década de 1920. Há praticamente 90 anos, este marco dos óculos de sol, acompanhado de uma boina (que também é um típico traje do vovô) e da básica camisa branca, deixa qualquer um carregado de estilo.
Cabelão comprido, vestidão, “paz e amor”, fitas no cabelo. Sendo o maior símbolo do movimento de contracultura da década de 1960, os hippies, apesar de terem perdido um pouco a força, não deixaram de influenciar na indumentária de muitos jovens que podem ser considerados “alternativos”.
O xadrez é sempre tendência. Não importa se é para a festa junina ou para o inverno retro, se é para a toalha de mesa ou para aquele acessório chiquérrimo que vai fazer toda a diferença no visual. Inserido em diversos contextos, o xadrez vem traçando sua história ao longo dos séculos.
Por último, e não menos importante, quem nunca usou um vestido, uma saia ou um lenço de bolinhas? Quem nunca, mesmo sem saber pilotar uma moto, não quis ter uma jaqueta de couro? E quem nunca usou um chapéu nem que fosse para esconder um corte de cabelo mal feito?
A história se repete. E, como vimos, não é válido apenas para política ou economia. Mas para a moda também. Vivemos um ciclo onde tudo que é “velho” é “novo” e “fashion”, onde tudo pode ser reaproveitado e usado infinitamente. O “guarda roupa da vovó” é um ótimo lugar para adquirir novas peças. Além, claro, da “casa da vovó” ser o local ideal para aquela refeição deliciosa recheada com histórias maravilhosas.
Produção de moda, texto e fotografia: Nathália Caltabiano